quarta-feira, 31 de dezembro de 2025

Queima de fogos e risco de crise sensorial em autistas

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[email protected] 4 horas atrás - 3 minutos de leitura

A queima de fogos de artifício durante a virada do ano é uma tradição que causa desconforto a muitas pessoas, especialmente aquelas que são mais sensíveis aos ruídos altos. Isso inclui idosos, crianças e indivíduos com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Tanto neuropediatras quanto neurologistas alertam sobre os danos que esses sons podem causar.

Os especialistas explicam que pessoas com autismo muitas vezes têm uma sensibilidade maior aos sons e podem sofrer com consequências que vão além do momento da celebração. O neuropediatra Anderson Nitsche, professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, ressalta que as reações a esses barulhos podem gerar crises sensoriais, levando a comportamentos como ansiedade e até agressividade. Ele afirma que o barulho excessivo pode resultar em distúrbios no sono que se prolongam por dias.

De acordo com a neurologista Vanessa Rizelio, quem tem TEA não consegue entender que os fogos são parte de uma comemoração. Para eles, esses sons são interpretados como algo extremamente negativo, semelhante a estar em uma situação de perigo. Isso pode gerar reações como irritabilidade e desconforto geral, afetando o bem-estar no dia seguinte.

A neuropediatra Solange Vianna Dultra também aponta outros efeitos negativos da queima de fogos. Ela explica que pessoas com TEA podem sentir aumento da frequência cardíaca e alterações na pressão arterial, como se estivessem passando por uma situação estressante. Essas reações podem ocorrer até em ambientes cotidianos, como durante o recreio na escola, em resposta a barulhos altos.

Algumas cidades brasileiras estão repensando o uso de fogos de artifício em celebrações públicas. Já existem legislações que proíbem artefatos barulhentos, e alternativas como fogos silenciosos, shows de luzes e apresentações com drones estão sendo adotadas. Essas mudanças visam manter a essência das festividades enquanto respeitam os direitos de quem se sente prejudicado pelos ruidos.

Ana Maria Nascimento, psicóloga especializada em neuropsicologia, defende que essas alternativas ajudam a incluir todas as pessoas nas comemorações. Para ela, persistir na prática de usar fogos ruidosos pode ser visto como uma falta de consideração com aqueles que se sentem incomodados.

Solange Vianna acrescenta que o impacto dos fogos não afeta apenas as crianças com TEA, mas também suas famílias. Alternative como fogos sem som permitem que as famílias mantenham os filhos longe dos barulhos intensos e possam ainda desfrutar das festividades.

Anderson Nitsche enfatiza a necessidade de uma perspectiva mais empática na sociedade, argumentando que é fundamental adaptar as tradições para incluir todos. Ele menciona que o autismo atinge cerca de 3% da população mundial. Embora nem todas as pessoas autistas tenham dificuldades sensoriais, é importante entender e respeitar as diferenças.

Além das consequências para pessoas com TEA, os idosos, especialmente aqueles com demência, também são afetados pelos sons altos. Conforme o neurologista Vanessa Rizelio, esses indivíduos podem entrar em surtos de delírios ou alucinações em resposta aos ruídos, o que prejudica a memória e o raciocínio.

Os bebês, que podem ter um sono mais delicado, também sofrem com os fogos. Vanessa lembra que a queima começa horas antes da meia-noite, aumentando gradualmente de intensidade, e isso pode impedir que os pequenos consigam dormir adequadamente.

Para amenizar os efeitos do barulho, algumas recomendações incluem o uso de sons como ruído branco ou abafadores. Apesar da proibição da venda de fogos de artifício em várias cidades, a falta de fiscalização contribui para que ainda ocorra o uso desses artefatos barulhentos. A neurologista Vanessa Rizelio destaca que, mesmo em locais onde as leis estão em vigor, o problema persiste e pede uma abordagem mais rigorosa para garantir o bem-estar da população.

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